Seminário com o escritor Rubem Alves

Ontem foi um dia bastante prazeroso para mim. Um dos motivos para a felicidade estampada em meu rosto (e corpo inteiro) foi a presença do Escritor Rubem Alves aqui em Salvador.

No dia anterior eu já havia separado o meu livro mais querido, escrito por ele, levando-o comigo para ser autografado. Quando eu cheguei no local percebi que a maioria das pessoas teve a mesma idéia e já fui pensando numa estratégia de ficar o mais perto possível porque não bastava somente ouvir a palestra. O bom mesmo é sentar na primeira fileira e bem de frente pra ver e ser vista. Curiosamente, neste dia, muitas pessoas se sentaram na primeira fileira (normalmente todos se sentam na segunda ou lá no final), mas consegui o meu lugar privilegiado tirando uma pastinha que estava marcando uma cadeira. Ora bolas! O que era uma pastinha na cadeira comparada com a minha vontade de sentar na frente? Nada! Quando eu vi a bendita (pastinha) já estava na cadeira de trás...Que coisa hein? Não me lembro da minha mão fazendo isso. Normalmente eu não me lembro quando faço isso (rsrs).

Auditório lotado! Ainda bem que eu cheguei 1 hora antes senão ficaria do lado de fora como tantas outras pessoas ficaram.

E finalmente Rubem Alves chega de camisa pólo, destoando dos engravatados e fazendo com que eles se perdessem nos roteiros iniciais, como sempre dispensando a leitura do seu currículo. O locutor foi para o final do roteiro parecendo meio perdido.(rapaz, isso não é coisa boa não. Dá pra perceber o homem perdido nos papéis...hahaha) sei como é isso.

Finalmente ele fala para a platéia sobre sua vida como professor, dizendo que vai contar alguns casos, histórias, falou um pouco usando expressões e trechos de alguns de seus autores favoritos e deu exemplos de atitudes que ele considera leal para a postura de um professor.

Não é difícil explicar o que tem de diferencial neste escritor em comparação aos outros: sua simplicidade e sabedoria com as palavras, além de seus casos deixaram os nossos ouvidos e olhares fixados em sua direção, admirados como ele fez tudo ficar muito simples.

Difícil é escrever e descrever os sentimentos e sensações que as palavras de Rubem e sua presença nos despertam. Rubem fala de coisas simples que a gente deixa de fazer diariamente; fala da felicidade de ser admirado pelo aluno - privilégio de poucos professores. Pediu para que os professores pensassem: o que eu posso fazer para que o meu aluno sinta admiração por mim? Ele diz que não há receitas para ser um bom professor. A arte de despertar a admiração dos alunos ou de qualquer outra pessoa está em nossas atitudes rotineiras e na maneira como as conduzimos.

Já no final da palestra, após aproximadamente 2 horas, passadas como um relâmpago, Rubem disse que gosta de visitar a Bahia porque é um povo que não tem pressa. (gargalhadas total na platéia) A gente entendeu o recado.

E no momento que a platéia teve de perguntar algo ao escritor, Kariene, claro estava ali pronta. Vocês não acham que eu ia perder essa oportunidade de falar com ele, né? Muitos menos falar por bilhetinhos. (não sei porque as pessoas preferem bilhetinhos sem graça e o pior: eles sempre são respondidos nos montinhos de 3 ou 4 ...rs...que horror!)

É CLARO QUE EU IA PERGUNTAR NO MICROFONE!!!!

Eu não tinha nenhuma pergunta, nenhuma dúvida. Ora bolas, Rubem diz sempre que as respostas estão em nossas atitudes e que ele não sabe as respostas para tudo. Eu não ia perguntar nada, claro! Mas eu queria falar. Então, peguei o microfone e disse que eu sempre ia na casa dele (ele tem uma casa virtual: www.rubemalves.com.br, com o título “a casa de Rubem Alves), disse que o meu lugar preferido era a cozinha e pedi que falasse em poucos minutos sobre a arte de cozinhar e a arte de educar. Eu já sabia a resposta, mas muitos dali nunca ouviram falar nisso e não sabem despertar a fome da educação em seus alunos; não sabem que, assim como o cozinheiro produz fome com o cheiro da comida e seu visual, o professor precisa fazer o aluno sentir vontade de aprender assim como sentimos vontade de comer (escritos de Rubem Alves). Ninguém come sem ter fome de comer; Ninguém aprende sem ter fome de aprender. É preciso querer comer e querer aprender, espontaneamente.

Rubem sorriu e me disse que aquilo era assunto pra muitos dias, mas afirmou que podemos nos inspirar na cozinheira Babete (livro/filme: a festa de Babete). E falou um pouco sobre o assunto. Comentou também que pediu a filha que construisse uma casa para ele sem repartições para que a cozinha ficasse perto de tudo, haja vista a sua importância para ele.

Alguém perguntou no bilhetinho: dicas de como ser um bom professor ou algo assim. Rubem respondeu carinhosamente: “ não sei: chupe um picolé”

Hahahahaha ..momento gargalhadas I na platéia.

Lembro-me que em outras palestras ele mandou a pessoa cozinhar; inventar, experimentar receitas, sair dos padrões das receitas tradicionais, misturar ingredientes e atrair o aluno para querer aprender, assim como a cozinha atrai as pessoas pelo cheiro e mistérios.

Em outro momento ele disse que a gente se prende na educação e um exemplo ruim disso é o nome que damos aos processos escolares como, por exemplo, GRADE CURRICULAR

Momento gargalhada II, na platéia.

- Grade curricular? Estamos presos? Porque não caminhos curriculares?

Ainda lembrou que apesar do nome não ser nada atrativo é o que menos importa, mas as atitudes sim é o que interessa.
Nos aconselhou a tomar as rédeas da nossa prática e disse que temos o poder nas mãos em sala de aula. "Ter o poder não é seguir as grades", disse ele. Disse, também, que não precisamos seguir as normas indo mais longe : "minta para o seu diretor!!!!" Faça o que achar correto! Saia das grades quando achar que aquilo não interessa a seu aluno e não esqueça de ouvi-lo sempre. Estas foram as suas últimas palavras no dia.

E o autógrafo em meu livro?

Claro que eu fui em busca... Consegui o autógrafo e ainda de quebra tiramos uma foto.
(Eu e um batalhão de professores)

Fico no aguardo da próxima visita do Rubem...